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Insônia

  • Por Nilton Manoel Domingos Jr
  • 09 nov., 2017

Estimativa da OMS é que 40% dos brasileiros sofrem com a insônia.

Dormir bem é extremamente importante para a saúde física e mental de todos nós. Noites mal dormidas podem representar um sério problema para o funcionamento adequado do indivíduo e seu bem-estar geral.

No Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que cerca de 40 % da população sofra de insônia, em seus diversos níveis de gravidade, porém nem sempre a mesma é diagnosticada e tratada de forma adequada, muitas vezes pela própria cronificação do quadro (com o paciente se "acostumando" a viver com ela e minimizando seus efeitos) e outras vezes pela ausência de menção objetiva e questionamentos por parte dos médicos nas consultas. Apesar de bastante comum, é importante ressaltar que, naturalmente, algumas pessoas dormem menos do que as outras. Isto não significa que elas têm insônia. A necessidade de sono é diferente entre as pessoas e varia também de acordo com a faixa etária específica.

Pode-se considerar que, além dos prejuízos individuais e importante sofrimento subjetivo ocasionados aos pacientes, esse distúrbio, considerado um problema de saúde pública, causa grandes impactos no funcionamento do indivíduo como um todo, em suas relações interpessoais, desempenho e acidentes no trabalho, absenteísmo, dificuldades nos estudos, queda de rendimento nos esportes e até mesmo nas atividades de lazer. É sabido também que muitas doenças podem ser precipitadas e/ou agravadas pela insônia, especialmente patologias cardiovasculares (HAS – hipertensão arterial sistêmica, por ex) e metabólicas (obesidade, diabetes).

Segundo a classificação do DSM-5, da Associação Americana de Psiquiatria, existem alguns critérios a serem observados para o diagnóstico correto da insônia, entre eles:


   a) Queixa de insatisfação com a quantidade ou a qualidade do sono em associação a um (ou mais) dos seguintes sintomas: dificuldade de iniciar o sono; dificuldade de manter o sono (frequentes despertares / problemas para voltar a dormir após o despertar); despertares precoces pela manhã

   b) Comprometimento do funcionamento social, ocupacional, educacional, acadêmico, comportamental ou de outra área importante

   c) Dificuldade de dormir ocorre pelo menos três vezes por semana

   d) Dificuldade de dormir está presente durante pelo menos três meses 

Diversas causas estão relacionadas à fisiopatologia da insônia, dando à mesma um modelo multifatorial. Assim, na avaliação do paciente com esse distúrbio, devemos pesquisar: a vulnerabilidade genética, doenças comórbidas associadas, além de situações do ambiente que possam estar desencadeando (ou agravando) um quadro de dificuldade de se iniciar ou manter o sono, tais como excesso de luminosidade, de estímulos e ruídos e temperatura ambiente desagradável.
Distúrbios psiquiátricos também podem estar relacionados à insônia. Os mais comuns são: transtornos de ajustamento/adaptação (reações ao estresse), transtornos do humor [a prevalência da insônia nos quadros depressivos é cerca de 80%, especialmente insônia terminal, transtornos de ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, entre outros. A insônia também pode agravar esses mesmos problemas, acentuando quadros de disforia, irritabilidade, cansaço, desatenção, sensação de esgotamento físico e mental, hipersonolência diurna, além de queixas de disfunção sexual. Já em relação  aos quadros clínicos (orgânicos) que também podem contribuir para um sono irregular, destacam-se: doenças neurológicas (Alzheimer, Parkinson, Enxaquecas), doenças cardíacas e pulmonares (insuficiência cardíaca congestiva, angina, asma, DPOC), doenças gastrointestinais (como o refluxo gastroesofágico) e diversas outras (quadros alérgicos obstrutivos das vias aéreas superiores, hipertireoidismo, alterações hormonais da menopausa, doença renal crônica, incontinência urinária, doenças neoplásicas), além do uso de alguns medicamentos e substâncias estimulantes (café, anfetaminas, nicotina), alguns antidepressivos, esteroides, álcool, quadros dolorosos em geral, a própria apneia obstrutiva do sono e outras perturbações circunstanciais do ciclo sono-vigília (como, por exemplo, o trabalho em turnos)
Dessa forma, percebe-se que a avaliação da queixa de insônia necessita ser bastante detalhada, principalmente quando se objetiva um tratamento seguro e eficaz. Anamnese adequada, investigação dos hábitos de vida, do padrão comportamental, ritmo de trabalho e ambiente laboral, uso de substâncias psicoativas e medicamentos, doenças clínicas e psiquiátricas, antecedentes familiares, tudo isso é de fundamental importância. A polissonografia é um exame específico que ajudará a entender o padrão de sono dos pacientes com insônia, pois avalia as diferentes etapas do ciclo do sono e presença de apneias, por exemplo.

Contudo, é importantíssimo destacar o papel da Higiene do Sono, ou seja, um conjunto de medidas comportamentais e orientações que deve ser sempre reforçado (e muitas vezes ensinado) pelo médico ao paciente insone, conforme registra a Associação Brasileira do Sono, para reeducação e correção de hábitos inadequados conforme os descritos a seguir:

  1. Manter horários regulares de sono-vigília
  2. Evitar cochilos, especialmente perto do horário de dormir; ir para a cama somente quando estiver com sono
  3. Não ficar acordado na cama por períodos prolongados; evitar usar a cama para leitura, ver televisão ou alimentar-se
  4. Evitar tomar muito líquido ou fazer refeições noturnas "pesadas"
  5. Praticar exercícios regulares (evitando os mesmos algumas horas antes do horário de dormir)
  6. Diminuir ou evitar o consumo de substâncias estimulantes (cafeína, refrigerantes, tabaco) pelo menos 6 horas antes do horário de dormir.


Do ponto de vista medicamentoso, existem diversas opções seguras para o tratamento da insônia, a curto, médio e longo prazos, sendo importante sempre informar ao paciente que tal opção necessita de acompanhamento médico regular e criterioso, especialmente pelo fato de alguns medicamentos apresentarem efeitos colaterais e, quando usados de forma inadequada, poderem ocasionar risco de uso abusivo, desenvolvimento de tolerância e quadros de dependência (como os benzodiazepínicos, por exemplo). Assim, sempre que possível, o objetivo é buscar um tratamento combinado: farmacológico (quando necessário), psicológico e comportamental, reavaliando-se periodicamente o padrão do sono, os distúrbios comórbidos, a funcionalidade do paciente e suas próprias impressões subjetivas da qualidade do seu sono.

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